sábado, 31 de janeiro de 2009

óia Eu.



Douglas Resende (DG)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A LUZ de Brecht

Em tudo o que é evidente, é hábito renunciar-se, muito simplesmente, ao ato de compreender. O que era natural tinha, pois, de adquirir um caráter sensacional. Só assim as leis da causa e de efeito podem ser postas em relevo. Os homens tinham que agir de determinada forma e poder, simultaneamente, agir de outra.

Brecht

DG

Margarida Fausto

Exercício de Reg1 - Adaptação de Fausto
Margarida

TEATRO um GUIA para INTELIGÊNCIA LIBERTÁRIA

Ontem no sambinha o insight que eu tinha tido e que não estava me lembrando passava pelo raciocínio do teatro ser uma QUESTÃO DAS NOSSAS (claro). Estava conversando com uma amiga da Xará sobre teatro e falávamos que todas as pessoas deveriam fazer teatro, independente de quererem ser atores ou não. O teatro é marginal à sociedade. O teatro une todas as cores do espectro, acolhe todos e qualquer um. Nos deixa mais lúcidos e mais loucos e mais livres! Nos aproxima da humanização. E nesse mundo desumanizado, como o próprio Brecht diz, precisamos nos humanizar. O teatro é uma inteligência libertária porque ele abre canais dentro de nós, quebra paradigmas, crenças limitantes, nos liberta para sermos quem verdadeiramente somos. E por isso é temido, quando verdadeiro... O Guia é uma ameaça pro comerciante porque o guia SABE...o guia é um MISTÉRIO. O teatro é um mistério que nos entrega chaves para que possamos abrir novas portas, para enxergar o mundo por uma outra forma. Uma forma talvez de quem está à margem da sociedade e que, portanto, tem um distanciamento... E daí fazer o link do teatro como sendo um guia para a inteligência libertária... E assim poderemos encontrar o nosso lugar da política no teatro...questionando também o teatro que está sendo feito por aí na nossa Gávea do Brasil.

E por aí vai...

Paula Rafael

ps. vide comentário na postagem "esquemas 27/01/2009". Lá falei um pouquinho do guia como sendo a inteligência libertária....antes de ter feito mais este link com o teatro.

pré digitação da direção

Cores das falas
Ênfase da palavra
(anotações das falas)
Uma pequena expedição cruza apressadamente o deserto .
Direção: tenista- saque, nadador-largada, futebol-falta
Comerciante: (a seus dois acompanhantes, o Guia e o Cule que vai levando as bagagens)- (vc já está no deserto, já estão atrás de vc, pressa, urgência, impaciência) Anda logo, seus preguiçosos! (não morre intenção, continua projetando nele). Precisamos chegar ao posto de Han (pensar como é o posto, visualizar, concatenação do personagem está aqui, a questão, obsessão, fala pra público, abre círculo de interlocução.) dentro de dois dias (superobjetivo), pois temos de levar um dia de vantagem, custe o que custar (RISCO, subir 5 degraus até aqui). (Ao público) Eu sou (propriedade, o que eu represento na sociedade, o meu papel) o comerciante Karl Langmann (encontrar aspecto esquizoide, traço neurastêmico do personagem), e vou de viagem para a cidade de Urga (Brecht), (falar claramente para a platéia) onde espero fechar o negócio de uma concessão. Meus concorrentes vêm aí atrás de mim (se me pegarem vai atrapalhar meu negócio, relação física com os concorrentes). O negócio é de quem chegar primeiro (certeza, vc nunca está em dúvida. Se tem dúvida, o personagem fala). Graças à minha esperteza, e a minha disposição para vencer quaisquer dificuldades , e à dureza com que sempre tratei todo o meu pessoal(comerciante considera estas grandes qualidades), até aqui a viagem foi feita quase que na metade do tempo que costuma levar. Por azar, meus concorrentes parecem ter alcançado também uma rapidez igual (Olha pra trás com o binóculo) . Toda uma fala para mostrar sua classe e justificar sua pressa. Fala e age (1ro distanciamento).
Lá vem eles de novo , vejam só (ele não fala nada gratuito, se for pra ver é pra ver): sempre nos meus calcanhares !(Ao Guia) Por que não dá uma porrada nesse cule? (sobe)Foi para isso que contratei você ! (sobe) Mas, pelo visto, o que querem fazer é turismo às minhas custas (puta querendo segurar a “putidão”. Condição limite. Pretensioso na sua escolha, no seu ofício. Atacar o coração dos outros). Vocês nem podem fazer uma idéia do quanto custa uma viagem (coloca um conhecimento, uma teoria nessa viagem, que eles não conhecem) destas: porque o dinheiro não é de vocês ! (Aparece o conflito, o risco da morte) Se vai continuar me sabotando , eu faço queixa de você na Agência, assim que chegarmos em Urga !
Guia (passagem entre os mundos) (ao Cule) – Vê se anda mais rápido! (assimila bronca e leva na fala, vem do fígado, pega por baixo)
Comerciante – Sua garganta não dá o tom certo: nunca há de ser um guia de verdade. (ação) (querendo tirar o guia daquele lugar) Eu devia ter chamado um mais caro. (outra ação) Os outros estão cada vez mais perto. Bata nesse rapaz, para ele andar! (naquele lugar específico, onde dói. Ir em coisas concretas para a fala ganhar força) Vamos, (aqui, agora, neste tempo, cobra mais) o que está esperando? Eu não sou favorável a porrada (entendeu? É isto que eu estou falando, afirmação), mas tem hora que só batendo! (fazer levantamento da violência). Se eu não chego primeiro, estou falido (frase de peso, trágica, o personagem chegou nele, contei a história da minha vida, ele é humano) ! Para o transporte da minha bagagem, você foi chamar logo o seu irmão. (acusação na pessoa, destrincha) Foi ou não foi? Confesse!(descobre) Não bate nele, porque é seu parente. (Agora entendeu, pode subir nas tamancas) Eu sei muito bem como vocês são: é mentira que não saibam bater. (pausa de autoridade) Ou você bate nele ou está despedido! (adocicar) Depois pode ir queixar – se com a justiça (lembrar da papelada, burocracia), por causa do salário (relação mais valia). (trilha concorrentes chegando) Meu Deus do céu, eles estão nos alcançando.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Histórico-social

Talvez a palavra voyer (que a isabel menciona) sintetize realmente a participacao do guia no percurso...o que temos que descobrir é se realmente está contido na relacao essa situacao de desejo, essa vontade.
Precisamos nos ligar, fazer um levantamento das questões histórico-sociais pra saber se a condicao que se sustenta nao é apenas relativo ao imutável social. Sair um pouco do nível especulativo (que é ótimo para a criacao) e nos apegar a algo mais concreto, que é a intencao de Brecht, pois brecht escreve observando as classes, a pirâmide, a organizacao, é a partir desse ponto que ele propõe a análise, a crítica...entao NAO podemos ignorar isso.

DG

Objeto de desejo

Como lidamos com o imutável , com as relações que não se concretizam é preciso aniquilar o objeto de desejo ??Isabel

O sadomasoquismo nas relações humanas

Penso , que sobre a síndrome de Estocolmo que acontece entre o cule e o comerciante, além de ver pelo ponto de vista , do aniquilamento do objeto de desejo , precisamos prestar atenção no quanto o guia é também um voyer e tem prazer ou não de assistir à tudo que se passa . Afinal de contas ele não é um mero espectador , ele participa da ação de maneira decisiva no capítulo I corrida no deserto . Isabel

Cor das falas

Proponho que se desenvolva um processo de dissecar as falas da cena 01 ? Qual o bio - ritmo , respiração , timing , acontecimentos em torno ,como aquela situação limitrófe influencia na expressão corporal e principalmente no distanciamento brechtiano , perante à uma situação bastante aristotélica , que se apresenta naquele momento ? Uma decupagem seria interessante também para determinar as diferenças entre o cule e o comerciante e já apresentar de uma maneira natural o empace que ocorre . Tudo isso pensando na respiração , e na encenação propriamente dita , sem fazer maiores links com terias que não dizem tanto respeito ao teatro , sem ignorar a importância destas . Mas penso que este caminho poderia nos ajudar mais .O que oensam ???

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

levantamento apropriado de conceitos brechtianos na cena do deserto cena mãe da peça

Indicações

Douglas Sugere descobrir o Cule apartir das falas do Comerciante
Palavras : urgência imediatismo negócio dinheiro vencedor ganha que chega primeiro
Estado limite
O comerciante no limite explosivo
Uma condição prescisa ser mantida como forma de defesa
Comerciante alvo e de um complô
Demissão prevista
Acuado ataca!
Decisão imediata reflexão depois!
Atitude tomada nescessita ser comprida.
O risco de arriscar a vida pelo negócio
Decadência do Comerciante....
Sindicalizado/ trabalho
Ele têm consciência dos limites ultrapassados!
Desesperado atos arrependidos !!!
Aguarda vingança!
Imediatismo
Quem é o Cule?
O Comerciante é a exceçÃo e a Regra!
Conceito de exceção e a regra....
O ator questiona Cule sua não revolta
Regra do conformismo
A violência é comun ou estranhável
O que é estranhável o que é comum ?
O Comerciante espera uma vingança?
Não o aceito o digerido..diretor.
Alternativas pro estranho pro comum

Paula Rafael : Pressa pro destino
Competição (capitalismo)
Objetivo da viajem dinheiro *
Esperto intelingente ele se auto denomina
Domina pela violência
Aceita a submissão aceita violência , o Cule? As falas da peça não geram violência?
! ignorância gera violência!
O Cule quer que bata nele?
Violência surte efeito....
Insultos e promessas dominador e dominado
Nós conformamos com migalhas diante da rotina de violência.....
Como se propaga pela peça a violência
Violência surge do medo
Que retrato da realidade
Existe ordem já das coisas no sentido vc espera a violência
Imutabilidade relações difícil desprender (condicionamento)
Autonomia







Isabel : sintaxe das palavras no texto
Mapa as falas pela sintaxe
Explorador e explorado inspiração e expiração principio de atuação
Diferente os ritmos proporcionam um tezão neles?(rs rs)
Apartir do momento que ele respira...
Fala com público de si pra si e fala se referindo aos personagens
Visão do todo que reagir a cada tempo de reflexão que considera os envolvidos e fala com todos - rapidez de pensamento numa situação tempo de reflexão em segundos
A cor da fala define pelos momentos do de si pra si e de expansão
Descobrimento da sintaxe
Deixa claro a que veio e o que ocorreu
Ele se mostra como paranóico e carente (comerciante)
Cule não tem questão existencial exemplo da massa
Relação de prazer sórdido
Compete na humanidade qdo não se resolve vc elimina o objeto de prazer
O que foi feito com eles ao longo da vida
O petróleo tira das entranhas qual o vazio
Uma explicação de quem e quem apartir do outro
Jogo dramartúrgico

Paula Loffer - apartir de uma citação do teatro épico
Vê o conteúdo de uma cena e o que ela pode dar pra vc apartir desta cena primeira
Estado limítrofe
Impaciência constante do Cule e do Comerciante
O Comerciante critica o Cule através do Guia e critica a atitude do Guia em relação ou Cule
Tempo dinheiro corrida
Clima da cena stão encurralados oprimidos
Tem fatores externos que pressionam a cena*
Evidência do dinheiro
O Comerciante é falido ou esta apostando tudo nesta viajem
Prática normais de violência...
Guia mediador da pressão entre os dois papéis
Comerciante inseguro( sem coragem) por não sabe fazer a violência ele exige do Guia
Medo do Guia de perder o emprego
O Cule sabe que o ofício é violento
Ele se submete pelo dinheiro?
O comerciante tem consciência da violência gerada.
Bater faz evoluir? Bate pra adiantar o tempo?

Foto Paula Neves

esquemas 27/01/2009





escalar conceitos

Nossa trajetório de si pra si
já inicia pegando as fontes lúcidas do teatro brechtiano
irrompemos nossa intelectualidade já em bases íntimas de nossa compreensão
sabemos das causas consequênciais do distanciamento
vimos pelo retrovisor o pensamento aristotélico
já pensamos brehctianamente, sim isso é possivel
nosso primeiro distanciamento da idéia brechtiana
Brecht nào é um mestre e sim um indicador um guia revolucionário
vimos abrir portas

Filme

olhem esse link...lista os filmes do syberberg com título em alemao e traduzido para o espanhol...nao encontrei os títulos em portugues...tentam procurar um local para alugá-los pois tb nao estou encontrando.

No ccbb esta rolando uma mostra de filmes do Helmut Käutner um alemao...olhem se tem alguma relacao com brecht para podermos ir.

http://www.goethe.de/ins/ar/pro/filmseminar/pdf/hans.pdf

DG

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Brecht marxista

No final de 1920 Brecht torna-se marxista, vivendo o intenso período das mobilizações da República de Weimar, desenvolvendo o seu 'teatro épico', que, de certa forma, sintetizava os experimentos políticos na Alemanha, influenciado pelo teatro experimental da Rússia soviética, entre os anos 1917-1926. O teatro era explorado por Brecht como um fórum de discussões das complicadas relações humanas dentro do sistema capitalista, criando sua versão de um drama épico, na perspectiva de uma estética marxista. Temos que estudar Marx profundamente para entender o teatro épico de Brecht, justamente sua época marxista.

Paula Loffler

Socialmente social

O teatro de Brecht é totalmente ligado a acontecimentos históricos e a vida social, o ser humano no convívio da sociedade. Por isso temos que pesquisar bastante filósofos e pensadores que falem sobre isso, principalmente os que são ligados ao nosso autor. Tem um texto maravilhoso do Max Weber que fala bastante sobre a sociedade chamado: A mudança de Paradigma. Esse filósofo possui influencia nas obras de Brecht, pois sempre foi um de seus "obejetos" de estudo.

"Um paradigma social é uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas compartilhados por uma comunidade, formando uma visão particular da realidade, que constitui a base da maneira segundo a qual a comunidade organiza a si mesma. Uma pessoa isolada pode ter uma visão de mundo, mas um paradigma é sempre compartilhado por uma comunidade."

Esse é um trecho do texto de Max Weber

Paula Loffler

A Nova técnica da arte de representar - Distanciamento

Temos que continuar nossa discussão do distanciamento no ensaio hoje. Tenho várias questões e esse é o foco do nosso trabalho, pois é a base do método de trabalho do Brecht.

" É condição necessária para se produzir o efeito de distanciamento que, em tudo que o ator mostre para o público seja nítido o gesto de mostrar. A noção de uma quarta parede que separa ficticiamente o palco do público e da qual provém a ilusão de o palco existir, na realidade sem o público , tem de ser naturalmente rejeitada, o que em princípio, permite aos atores voltarem-se diretamente para o público."

"O efeito de distanciamento, quando descrito, resulta muito menos natural do que quando realizado na prática."

Ou seja relaxem... nada é oq parece ser...

Fora isso tem muitas outras questões interessantíssimas. Todos tem que ler esse texto, o nome do texto é o título da postagem. Além de ser a base do nosso trabalho ele é bem didático como a Exceção e a Regra.

Obs: Por favor assinem seus comentários e postagens.
Paula Loffler

O bio - ritmo do ser humano

A vida tanto de um explorado , como de um explorador se inicia numa inspiração , e termina em uma expiração .Isso não os aproxima de alguma maneira ?

A dor e a delícia de ser um explorador

Já se pensou na dor daquele que explora , na culpa que carrega dentro de si ?

Ambiente Inóspito

O Estado de limite , o incômodo / força de vontade de estar no desserto como falamos e principalmente como retratamos isso de uma forma crível ?

Hans Jürgen Syberbergs

Esse diretor possui filmes onde expõe a teoria de distanciamento de Brecht

DG

O esquema indica as principais modificações que ocorrem ao

passarmos de um teatro dramático para um teatro épico.


Forma dramática de teatro

A cena “personifica” um

acontecimento

Envolve o espectador na ação e

consome-lhe a atividade

proporciona-lhe sentimentos

leva-o a viver uma experiência

o espectador é transferido para

dentro da ação

é trabalhado com sugestões

os sentimentos permanecem os

mesmos

parte-se do princípio que o homem

è conhecido

o homem è imutável

tensão no desenlace da ação

uma cena em função da outra

os acontecimentos decorrem

linearmente

natura non facit saltus

(tudo na natureza è gradativo)

o mundo como è

o homem è obrigado

suas inclinações

o pensamento determina o ser


Forma épica de teatro

narra-o

faz dele tetemunha, mas

desperta-lhe a atividade

força-o a tomar decisões

proporciona-lhe visão do mundo

è colocado diante da ação

è trabalhado com argumentos

são impelidos para uma

conscientização

o homem è objeto de análise

o homem è suscetível de ser

modificado e de modificar

tensão no decurso da ação

cada cena em função de si mesma

decorrem em curva

facit saltus

(nem tudo è gradativo)

o mundo como será

o homem deve

seus motivos

o ser social determina o pensamento

Levantamento: objetos de cena

Paula dentro (não é a Loffler)! 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fotos mapa da peça





Temos 4 fotos. Baixar e dar zoom é o ideal para vizualizar.
Paula Neves

Uma primeira impressão espontânea (para começar)

Estamos sempre com a impressão
de ter algo maior para tomar conta de nós.
E esquecemos que podemos tomar conta de nós mesmos. 
Estamos sempre a entregar nosso mistério para um outro resolver.

Pois sejamos detetives!
Tenhamos a habilidade de pensar,
de analisar, de opinar, 
de escolher.

Nossa vida, então, é nossa escolha,
e nossa escolha, a nossa invenção.
O nosso livre arbítrio, 
diante do que pensamos ser da nossa responsabilidade.

Avante!

fotos Brecht



Interesante esta foto pois vemos Brecht de olhos bem fechados!

domingo, 25 de janeiro de 2009

pré revolução no teatro


dicas rápidas brechtinianas


Não se trata de criar uma nova filosofia, ou um novo teatro. Trata-se de instaurar uma nova prática no interior da filosofia, para que ela deixe de ser interpretação do mundo, ou seja, mistificação, e sirva à transformação do mundo; trata-se de instaurar uma nova prática no teatro para que ele deixe de ser mistificação, ou seja, divertimento culinário, e sirva também à transformação do mundo. O primeiro efeito da nova prática deve assim se pronunciar sobre a destruição da mistificação da filosofia e do teatro. Não suprimir a filosofia e o teatro, mas suprimir sua mistificação. É preciso então chamar as coisas pelo seu nome, chamar a filosofia pelo seu nome, chamar o teatro pelo seu nome, reconduzir a filosofia ao seu verdadeiro lugar e reconduzir o teatro ao seu verdadeiro lugar, para fazer aparecer essa mistificação como mistificação e, ao mesmo tempo, para mostrar a verdadeira função da filosofia e do teatro. Tudo isso, naturalmente, deve se fazer na filosofia e no teatro. Para colocar a filosofia e o teatro nos seus devidos lugares, é preciso efetuar um deslocamento (spostamento) no interior da filosofia e do teatro.
Desse modo, as coisas são bastante parecidas em Marx e em Brecht. É nesse sentido que é preciso compreender o que Brecht chama de o Verfremdunseffekt, que foi traduzido muito bem para o francês como efeito de distanciamento, que eu traduziria de preferência como efeito de deslocamento ou efeito de decalagem.
Esse efeito não deve ser entendido apenas como efeito de técnicas teatrais, mas como um efeito geral da revolução da prática teatral. Não se trata de mudar de lugar, de deslocar alguns pequenos elementos no jogo dos atores, trata-se de um deslocamento que afeta o conjunto das condições do teatro. A mesma regra é válida para a filosofia. Trata-se, portanto, de um conjunto de deslocamentos, que constituem essa nova prática.
Entre todos esses deslocamentos, há um deslocamento fundamental que é a causa de todos os outros e que resume ao mesmo tempo todos os outros: o deslocamento do ponto de vista. A grande lição de Marx e de Brecht é a de que é preciso deslocar o ponto de vista geral a partir do qual todas as questões da filosofia e do teatro são consideradas. É preciso abandonar o ponto de vista da interpretação especulativa do mundo (filosofia) ou do gozo estético culinário (teatro), e se deslocar, para ocupar um outro lugar, que é, grosso modo, aquele da política. Eu já disse que na filosofia e no teatro, é a política que fala, mas que sua voz é em geral encoberta. É preciso voltar a dar a palavra à política, é preciso então deslocar a voz da política e a voz do teatro, para que a voz que se compreende seja a voz que fala do lugar da política. É o que Lênin refere-se à posição de partido em filosofia. Há em Brecht toda uma série de expressões que voltam a dizer: é preciso ocupar uma posição de partido no teatro. Por posição de partido, não é preciso se compreender algo que seja idêntico à posição de partido na política, pois a filosofia e o teatro (ou a arte) não são a política. A filosofia é diferente da ciência, e diferente da política. O teatro é diferente da ciência e da política. Não se trata, portanto, de identificar filosofia e ciência, filosofia e política, teatro e ciência, teatro e política. Mas é preciso ocupar na filosofia como no teatro o lugar que representa a política. E para ocupá-lo, naturalmente, é preciso encontrá-lo. Isso não é fácil, porque para saber onde está o lugar da política na filosofia e no teatro, é preciso saber como funcionam a filosofia e o teatro, e como a política (e a ciência) são representadas. Não se vê a olho nu o lugar da política no teatro. (Esse lugar é similar ao que ela se desloca na história, ou, para falar com mais precisão, é similar ao que a política muda de representantes na história da filosofia e do teatro).

Distanciamento


Bertold Brecht

Bertold Brecht (1898-1956) foi um dos principais dramaturgos da República de Weimer – termo que designa os 20 anos de instabilidade política que reinaram na Alemanha entre as duas grandes guerras. Comunista, viajou à União Soviética, onde conheceu o dramaturgo Constantin Stanislavsky. É provável que tenha conhecido a obra de Schklovsky.

Para Brecht, o teatro jamais deve oferecer prazer fácil e visual ao espectador. Descreve este tipo de arte como “culinária” – dá um gosto sensorial bom, mas que não muda o público. Muito pelo contrario: anestesia-o.

Daí sua ênfase do teatro épico. O que seria isto? Seria um teatro que desvenda as relações sociais imperceptíveis que sustentam as estruturas de dominação. Seria um teatro didático, que transformaria o palco em um experimento onde as relações de poder, valores e dominação são evidenciados de forma a desmistificar a estrutura social e instar o público à transformação.

Mas, se o problema das relações de dominação é precisamente que elas estão tão entranhadas no cotidiano a ponto de parecerem naturais, como criar uma arte capaz de ameaçá-la? Para Brecht, a resposta é simples: estimular a descrença do espectador, ao invés de suspendê-la. Busca por isso uma arte que – para roubar a expressão de Foucault – represente a si mesma representando e demonstre assim não ser a realidade em si, mas apenas um retrato dela.

O instrumento desta descrença seria o Verfremdungseffekt – também conhecido como efeito de distanciamento, alienação ou estranhamento. E prevê diversas técnicas capazes de gerar tal efeito, entre elas as interpelações ao público, as mudanças nos tempos verbais, o uso da terceira pessoa do singular pelos personagens e a apresentação de comentários sobre a ação.

Tais instrumentos impediriam que o público confundisse o teatro com a vida real. Mas fariam algo a mais: denunciariam, na mesma artificialidade do palco, a artificialidade da vida. Brecht parece, portanto, presumir uma estranha analogia entre palco e vida real. A realidade “resistida” no teatro seria também resistida fora dele.

O teatro épico de Brecht deve ser lido como um instrumento para tentar superar as formas teatrais existentes na época, em uma busca de evolução a uma nova forma de teatro, este com uma nova ligação com a sociedade. No intuito de construir uma nova sociedade!