domingo, 25 de janeiro de 2009

Distanciamento


Bertold Brecht

Bertold Brecht (1898-1956) foi um dos principais dramaturgos da República de Weimer – termo que designa os 20 anos de instabilidade política que reinaram na Alemanha entre as duas grandes guerras. Comunista, viajou à União Soviética, onde conheceu o dramaturgo Constantin Stanislavsky. É provável que tenha conhecido a obra de Schklovsky.

Para Brecht, o teatro jamais deve oferecer prazer fácil e visual ao espectador. Descreve este tipo de arte como “culinária” – dá um gosto sensorial bom, mas que não muda o público. Muito pelo contrario: anestesia-o.

Daí sua ênfase do teatro épico. O que seria isto? Seria um teatro que desvenda as relações sociais imperceptíveis que sustentam as estruturas de dominação. Seria um teatro didático, que transformaria o palco em um experimento onde as relações de poder, valores e dominação são evidenciados de forma a desmistificar a estrutura social e instar o público à transformação.

Mas, se o problema das relações de dominação é precisamente que elas estão tão entranhadas no cotidiano a ponto de parecerem naturais, como criar uma arte capaz de ameaçá-la? Para Brecht, a resposta é simples: estimular a descrença do espectador, ao invés de suspendê-la. Busca por isso uma arte que – para roubar a expressão de Foucault – represente a si mesma representando e demonstre assim não ser a realidade em si, mas apenas um retrato dela.

O instrumento desta descrença seria o Verfremdungseffekt – também conhecido como efeito de distanciamento, alienação ou estranhamento. E prevê diversas técnicas capazes de gerar tal efeito, entre elas as interpelações ao público, as mudanças nos tempos verbais, o uso da terceira pessoa do singular pelos personagens e a apresentação de comentários sobre a ação.

Tais instrumentos impediriam que o público confundisse o teatro com a vida real. Mas fariam algo a mais: denunciariam, na mesma artificialidade do palco, a artificialidade da vida. Brecht parece, portanto, presumir uma estranha analogia entre palco e vida real. A realidade “resistida” no teatro seria também resistida fora dele.

O teatro épico de Brecht deve ser lido como um instrumento para tentar superar as formas teatrais existentes na época, em uma busca de evolução a uma nova forma de teatro, este com uma nova ligação com a sociedade. No intuito de construir uma nova sociedade!

2 comentários:

  1. Segue aqui atores de si a primeira postagem neste nosso mapa distanciado da cultura estética! Apartir de Brecht que criamos uma reeleição de valores e conceitos acerca do teatro assim como foi sua busca no palco!

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  2. Viagens de hoje:

    TEATRO ÉPICO: relações sociais imperceptíveis, que sustentam estruturas de dominação.

    - link com "desmistificar poder e transformar" - possível através do distanciamento.
    - um teatro didático, um teatro pedagógico, um teatro que mostra, que ensina.
    - ENSINAR É TRANSFORMAR.
    - Porque ensinar é CONSCIENTIZAR.
    - Quando você sabe a verdade, você pode escolher.
    - Conscientizar é ensinar a verdade para se distanciar dela e escolher seu partido (não-partido) PQ?
    - Porque somos nossos representantes, nós aqui, somos nossos próprios representantes.

    COMO CRIAR UMA ARTE CAPAZ DE AMEAÇAR A NATURALIDADE COM QUE PARECEM SER AS RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO?

    QUEM SOMOS HOJE? DOMINANTES, DOMINADOS?

    Descrença espectador (técnica)
    - através retrato realidade
    - através distanciamento
    - artificialidade do palco e da vida


    COMO PREENCHER?

    Me veio essa pergunta, sei lá!

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